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Modelo Naiara Alves conta experiência de viajar sozinha para o Nepal

Em setembro de 2016, deixei New Delhi, capital da Índia, onde estava morando, e viajei para o Nepal, na região dos Himalaias. Várias coisas me marcaram muito e quero compartilhar com vocês.

Assim que pousei em Kathmandu, capital do Nepal, meu corpo se arrepiou inteiro assim que pousei no aeroporto e senti uma energia estranhamente relaxante. Um sentimento de paz. Não demorei muito para perceber que esse sentimento refletia daquele lugar. Isso me lembrou do que uma amiga tinha comentado comigo há pouco tempo atrás, quando fez a mesma viagem, sobre a vibração do país e a sensação de paz. Quando cheguei, entendi sobre o que ela estava falando.

Kathmandu
Os prédios antigos de três andares em Kathmandu, um colado ao outro, davam a sensação de engolir as pequenas ruas. Há comércio em todas as portinhas da cidade. Dá para notar que algumas foram garagens de casa um dia, mas hoje foram transformadas em lojas, com balcões velhos e cheios de potes de balas, salgadinhos, cigarros e estátuas de deuses.
O turismo é a principal fonte de renda da região, então acredite, se você for turista e estiver andando pelas ruas de Thamel certamente será parado umas 100 vezes pelos comerciantes. Eles irão te oferecer até a própria mãe se você quiser comprar.


Turismo
Em um dos dias fui conhecer a famosa Praça Darbar, com seu palácio e todos os seus templos. Passei pelo templo do deus Shiva nesse dia. Dizem que antigamente o local era frequentado por jovens que se reuniam no templo para orar e fumar maconha. Isso porque, segundo o guia, Shiva também gostava da erva. Também passei pelo templo Kama Sutra, que não ousei perguntar ao guia quais eram as atividades feitas lá dentro.
Visitei vários outros templos com nomes difíceis de pronunciar. Todos de tijolos à vista, com portas e janelas de madeira, minimamente desenhadas e projetadas. Aquelas madeiras são realmente uma obra de arte! Todas são pintadas de preto, esculpidas com muitos desenhos maravilhosos. Não entrei em detalhes com o guia, mas aquelas esculturas devem carregar muitas histórias sobre os antigos povos.

O triste é que todos os templos estão fechados para visita devido ao trágico terremoto, em 2015. As estruturas estão fracas e são seguradas por imensas toras de madeira. Apenas o templo de Kumari Che, a deusa viva do Nepal, está aberto para visitação.


Kumari é uma menina de nove anos que vive nos aposentos do templo, considerado seu palácio. Ela é venerada pelos nepalenses e turistas. Não pode ser tocada nem manter contato com muitas pessoas. A história de Kumari é extensa e foi fonte de inspiração no cinema e na literatura.

Todos os dias, às 16h, a deusa aparece em uma das pequenas janelas do templo, com vista para o jardim. O tempo em que ela permanece lá é sempre incerto, porque é a menina quem determina. Às vezes, Kumaria fica apenas um minuto na janela. No dia em que a vi, ela ficou apenas 20 segundos.

Os nepalenses acreditam que se você olhar para a Kumari ela transmitirá boa sorte a você. O intrigante é que, quando olhei para aquele rostinho inocente com os olhos pintados de preto, com um terceiro olho desenhado no meio de sua testa, usando um traje vermelho e aparentemente pesado, coberta de colares e um grande adorno vermelho sobre sua cabeça, não senti que ela estava feliz. Eu via apenas uma feição triste de alguém que não queria estar ali. A prova foi quando ela nos olhou por menos de 20 segundos e levantou quase que num pulo de sua cadeira e sumiu, como alguém que dizia “Chega, não quero ficar aqui.”.

Foto: The Official Tourism Website for Nepal
Como pode uma menina que foi tirada do seu lar com apenas três anos de idade, para ser tratada como uma deusa, ser e estar completamente normal? Isso me intrigou tanto que terminei o dia em uma livraria, buscando livros sobre a história de Kumari.

Descobri que as Kumaris são escolhidas por alguns mestres nas antigas vilas do Nepal. Tem que ter entre três e cinco anos, preencher alguns quesitos de beleza e não podem ter sangrado, nem por cortes, perda de dentes, nem ter cicatrizes. O papel de Kumari vai até o 12° aniversário da menina. Depois, os nepalenses acreditam que o deus sai de dentro da menina e é preciso escolher a nova virgem que tomará o posto.

Me pergunto se as Kumaris conseguem ter uma vida normal depois de uma infância tão diferente das demais crianças, após anos sendo idolatrada. Pelas minhas pesquisas, algumas ficaram tristes ao deixar o posto. Gostavam da bajulação e da veneração. E algumas apenas não queriam estar lá.

Todas essas histórias e lugares que visitei me marcaram de uma forma diferente das outras vezes, quando viajei com amigos ou família. Acho que me dei mais liberdade para me aprofundar em histórias desse lugar tão mágico.

Por: Naiara Alves, modelo e apaixonada por viagens.

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